Inverno favorece manejo e incentiva consumo de derivados da uva

Conforme levantamento da Emater/RS, a safra de uva 2024/2025 na Serra Gaúcha chega a 860 mil toneladas

23.05.2025 | 15:43 (UTC -3)
Adriane Bertoglio Rodrigues
Foto: Rejane Paludo
Foto: Rejane Paludo

Com a chegada do inverno e o clima mais ameno, cresce o interesse pelo consumo de produtos coloniais, como suco de uva e vinhos produzidos de forma artesanal. A Serra Gaúcha, grande produtora de uvas, apresenta condições ideais para o cultivo de diversas variedades da fruta, e nesta última safra 2024/2025 apresentou uma produção 5% acima de uma safra considerada “normal”, chegando a 860 mil toneladas. Artesanal ou industrializado, o vinho gaúcho é referência nacional e conquista prêmios e consumidores fora do país. Com o suco não é diferente e, pela qualidade, alcança novos mercados.

A produção das uvas ocorre entre os meses de novembro e março, conforme a variedade. Durante os meses mais frios, as videiras entram em dormência, período no qual não produzem. De acordo com o enólogo da Emater/RS, Thompsson Benhur Didone, este é o momento ideal para a realização de tratamentos fitossanitários, para prevenir o ataque de pragas e fungos no próximo ciclo vegetativo. “Durante o inverno, são feitos os tratamentos nas videiras. No final da estação, realiza-se a adubação do solo. Já em julho e agosto, é feita a poda seca, que ajuda a eliminar o excesso de ramos”, explica o enólogo.

A adoção de Boas Práticas Agrícolas (BPA), como o preparo adequado do solo, o uso de sementes e mudas certificadas, além da poda dupla, contribui de forma significativa para o desenvolvimento saudável das videiras e o aumento da produtividade.

A safra de uva 2024/2025 na Serra Gaúcha, conforme levantamento realizado pela Emater/RS em 55 municípios - 49 que compõem a região de Caxias do Sul e outros seis das regiões istrativas de Lajeado e de o Fundo –, é de 860 mil toneladas, o que engloba toda a fruta com propósito comercial, ou seja, para transformação industrial (745 mil toneladas) ou doméstica (15 mil toneladas), e a para o consumo in natura (100 mil toneladas).

A uva na serra gaúcha

Thompson conta que a produção de vinhos e sucos no Estado começou com os imigrantes italianos, há 150 anos, que trouxeram as primeiras cepas. Essas variedades, no entanto, não se adaptaram ao clima local. Posteriormente, através da cidade de Rio Grande, chegaram as uvas americanas, que se adaptaram melhor. A produção começou a se expandir a partir das décadas de 1920 e 1930, inicialmente para consumo próprio e, mais tarde, para venda. Na época, o vinho era vendido a granel e enviado de trem para São Paulo.

A grande evolução do setor começou na década de 1990, com a modernização das vinícolas e o cultivo de variedades viníferas. A partir dos anos 2000, a produção de suco de uva também cresceu, assim como a de vinhos finos e espumantes, que se destacam no mercado nacional e internacional, sendo considerados produtos de excelente qualidade.

Produtos coloniais

Nos últimos anos, os vinhos coloniais aram a ocupar um espaço importante no mercado. Com a recente criação da Lei do Vinho Colonial (Lei nº12.959/2014), os agricultores aram a contar com critérios mais íveis para o registro de pequenas vinícolas. A legislação trouxe vantagens fiscais e simplificou o processo de formalização, permitindo a comercialização, mesmo sem a necessidade de criação de uma empresa e inscrição no CNPJ.

Segundo Didone, pequenas vinícolas costumam manter uma relação de proximidade e confiança com o consumidor final, transmitindo, não apenas o produto, mas também a história da família, o conceito do vinhedo e o valor do trabalho no campo.

A Emater/RS oferece e técnico e orientação aos produtores em todo o processo de formalização, inclusive no o ao Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf), que disponibiliza diversos serviços gratuitos.

Boas práticas

Bruna Bresolin, engenheira de alimentos da Emater/RS, ressalta que a regularização dos produtos é feita pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), por meio do Sistema Integrado de Produtos e Estabelecimentos Agropecuários (Sipeagro), com apoio da Emater/RS. “O consumidor deve sempre priorizar produtos formalizados. No caso dos vinhos e sucos, é importante verificar no rótulo o número de registro no Ministério da Agricultura. Isso garante que o produto foi elaborado seguindo as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e está seguro para o consumo”, explica.

A produção de sucos e vinhos coloniais requer cuidados específicos de higiene para garantir a segurança e a qualidade do produto final. A lavagem das mãos, a limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos, a proteção dos produtos contra pragas e contaminantes, e a utilização de água potável são essenciais. Além disso, é necessário que os trabalhadores utilizem vestimentas adequadas, mantenham unhas cortadas e cabelos presos, e evitem o manuseio dos alimentos em casos de enfermidades. As instalações devem ser organizadas de forma a evitar o cruzamento entre áreas sujas e limpas, com ambientes bem ventilados e iluminados. Todo o processo precisa seguir as BPF, que envolvem também o controle da matéria-prima, a rastreabilidade dos lotes e o armazenamento correto dos produtos.

“Esses cuidados são fundamentais não apenas para atender às exigências legais, mas principalmente para garantir um produto seguro, valorizando o trabalho do agricultor familiar e fortalecendo a confiança do consumidor”, conclui Bruna.

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

ar grupo whatsapp
Agritechnica 2025